Não faz muito tempo, andava me queixando que justamente agora que estou mais experiente e seguro de minhas possibilidades profissionais, sentia a falta de oportunidade de colocar tanta experiência em prática.
Na verdade não era falta de cliente, eu como profissional sentia que estava sobrando! Sobrava capacidade instalada no consultório, sobrava experiência, sobrava tempo, e sobrando tempo, vinha aquele sentimento de inutilidade.
Tudo foi acontecendo devagarinho e sem que se pudesse notar, tudo aquilo pelo qual tinha lutado na vida, havia se concretizado. A busca da excelência profissional e o estabelecimento de meus próprios limites, através do aprimoramento técnico-teórico, da busca da capacidade prática ótima, associada à velocidade de execução, foi aparecendo, provocando a eficiência que terminou em sobra te tempo. Mas a sobra de tempo quase vira depressão.
Gozado né, o sujeito consegue um monte de coisas boas e aí fica deprimido? Pois é, num primeiro momento, como todo bom crítico de si mesmo, o resultado enxergado foi sobra de tempo que se traduzia em ociosidade e era difícil perceber que havia um ganho, o ganho de "eficiência pela alta produtividade".
Anos a fio dedicados à instrução, anos nos quais não se perdia um curso, um congresso, uma oportunidade de se instruir com os "maiorais", e tudo discutido à exaustão no grupo de estudos, toda semana em nossos consultórios. Tempos maravilhosos que não voltam mais, mas que deixaram seu legado, carimbando nossas existências com o selo do esforço por ser melhor.
Tempos de muita criatividade que nos deram a oportunidade de criar o "Informativo Sorriso Metálico" e fortalecer laços de amizade transcendentais.
Passaram-se anos, superamos a tempos profissionalmente difíceis aos quais nem todos sobrevivemos, até que apareceu a oportunidade pra dar vazão à capacidade produtiva pra eu perceber o quanto tinha sido valiosa minha dedicação e esforço em ser cada dia melhor.
Não só pude colocar em prática meu conhecimento, como minhas técnicas de raciocínio e protocolos de execução à prova, para conseguir produzir atendimento em quantidade sem perder qualidade. Mas ainda não tinha "caído a ficha" e mais parecia castigo trabalhar tanto.
Acontece que foi passando o tempo e foi ficando cada vez mais agradável a tal correria, mesmo percebendo um físico mais lento. Como podia ir trabalhar e voltar satisfeito da vida, com a camisa molhada de suor mesmo trabalhando sentado e ainda me sentindo pronto pro dia seguinte?
Eu mesmo me intrigava e comecei a reparar então nos detalhes: Saía para trabalhar apenas carregando minha própria pessoa, sem avental, sem material, sem preocupação de marcar consulta de cobrar cliente, fazer orçamento... NADA, apenas chegar lá, colocar o avental, calçar as luvas, colocar a máscara, sentar no mocho (o banquinho dos dentistas) e fazer exatamente uma das paixões de minha vida - ortodontia. O prazer de ser útil é impagável !!!
Percebida a vantagem, não levá-la pra clínica particular seria até burrice. Afinal, quem tinha uma secretária de mais de 25 anos de casa (minha amiga aliás), prontinha para eu poder delegar tudo que não me pertencia...
O interessante é que ainda por cima, pude perceber o respeito e a admiração de pacientes e colegas. Ganhar a vida se divertindo não é só pra jogador de futebol não....
A maturidade tem dessas coisas, de repente você percebe que fazer o que gosta vale muuuito a pena.
Talvez seja por isso que a produtividade vem aumentando e produzindo não apenas resultados, mas bons resultados!
